sábado, 3 de novembro de 2007

Que ti-ti-ti é esse... que vem lá do Anhembi

Discussões sobre cessão de camarote no Sambódromo revelam descaso da Liga com as Velhas Guardas e falta de transparência na organização do carnaval paulistano

Não é o samba-enredo histórico e campeão em 1987 da Estácio de Sá (RJ), mas no Anhembi (atual SP Turis), também tem ti-ti-ti, nada irreverente, e nem com o sapoti; aqui o enredo é outro. Em reunião no dia 12 de fevereiro, representantes da Associação Independente Cultural da Velha Guarda do Samba do Estado de São Paulo com representantes da SP Turis e da Liga discutiram no Anhembi a cessão do camarote reservado no Sambódromo às Velhas Guardas. E há suspeita de irregularidades.

“A nossa entidade apresentou à SP Turis um projeto para a infra-estrutura do camarote, cedido às Velhas Guardas, e conseguimos orçar em R$100 mil. Agora, a Liga e a SP Turis apresentaram um orçamento de R$130 mil”, aponta Marco Antônio da Silva, o Medonha, presidente da Associação.

“Se conseguimos mais barato, e atendemos ao pedido da SP Turis, que do ano passado, temos o direito de ocupar o que é nosso e usufruir desse espaço, representativo pela trajetória e histórico de sambistas que há décadas colaboram para a cultura do samba paulistano, desde a época dos desfiles na Avenida São João, passando pela Avenida Tiradentes e que agora desfilamos no Pólo Cultural Grande Otelo”, diz Silva. “Ignorar as Velhas Guardas é dar às costas a uma história que não começou ontem”, complementa.

Este processo vem da iniciativa da Prefeitura de influir, financeiramente, cada vez menos no Carnaval paulistano. Sob orientação da SP Turis, a Liga das Escolas de Samba de São Paulo enviou ao Ministério da Cultura (MinC) três projetos culturais, que captariam recursos por meio da Lei Rouanet e subsidiariam parte das atividades do carnaval. Estes projetos já foram aprovados pelo MinC e aguardam publicação no Diário Oficial da União.

A administração dessas verbas, bem como do próprio carnaval paulistano é feita pela Liga, com o apoio da UESP, sendo que a fiscalização é da SP Turis. Há dois anos a Associação da Velha Guarda reclama também a questão dos convites para os camarotes, como era feito anteriormente pela Liga e a SP Turis. “Isto também não funcionou bem, porque os convites, em sua totalidade, nunca chegavam às mãos da Velha Guarda”, diz Maria Aparecida de Oliveira, vice-presidente da Associação.

Andrades Figueira, assessor da presidência da SP Turis, comprometeu-se a apresentar os recibos de recebimento dos lotes de convites para cada agremiação. “Com estes protocolos vamos saber exatamente quem recebeu e qual a razão do extravio dos convites, dentro das quadras das Escolas”, reforça Oliveira.

Além dos protocolos, a Associação aguarda da SP Turis e da Liga um ofício confirmando a cessão do camarote, e da SP Turis, o protocolo do projeto encaminhado pela entidade, avalizando o trabalho da própria Associação na busca de patrocínios que cumpram os custos de infra-estrutura desse camarote. “Vamos aguardar estas providências. Temos tudo documentado e vamos encaminhar ao Ministério Público para apurar responsabilidades”, sinaliza Medonha.


Data original do release: 13 de fevereiro de 2007.

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